Parques de campismo! Sim… os Parques de campismo.



Muito se tem escrito sobre estes e muito mais se poderá escrever. Eu assim espero continuar a fazê-lo.
Como qualquer outro negócio, os Parques estão desenhados de forma a fazer render o mais possível o espaço que ocupam e, desta forma, ganhar mais (muito mais) dinheiro com o mesmo.
Eu comparo os parques de campismo um pouco com o vírus do sarampo. Dizia a minha querida mãe que é uma doença obrigatória e depois já está, nunca mais volta. Neste caso nós é que temos mesmo que voltar...os parques são para mim uma doença obrigatória pelo menos uma vez por semana, quando estou em férias grandes, ou seja, umas quatro vezes num mes.
Com crianças e extra membro da família (a minha querida cunhada Sandra) a viajar na Autocaravana, não tarda muito que os montões de roupa suja tomem conta dos espaços habitacionais dentro desta nossa viatura, e a família (como se de doninhas se tratasse) se identifique ao longe pelo odor.
Quando chega a altura (obrigatória) de ir passar uma noite a um parque de campismo, os sintomas são basicamente os mesmos que o dito sarampo: só de me lembrar quanto vou pagar entro em estado febril; já no acto de pagamento, fico vermelho e com bastante dificuldade em engolir (o preço), a assinatura do talão do cartão de crédito sai tremida e a minha conta bancária entra em estado de alerta máximo (vermelha e aos papos).
Estávamos há já duas semanas em férias e a ideia de eu ter que usar roupa interior fora de prazo tornou-se assustadora. Perante a promessa da minha querida esposa de que caso tivesse onde ligar o secador de cabelo ficava toda bonita...eu nem pensei duas vezes. Como capitão absoluto desta Autocaravana decidi, sob ameaça, que estava na altura de ir experimentar altos níveis de adrenalina. Sim, decidi entrar num Parque de campismo…
Chegámos ao Parque de Campismo da terrinha...logo ali à frente uma entrada que impressiona qualquer um: muitas flores, em frente à recepção um grande parque para crianças, e mesmo ao lado uma piscina, não muito grande mas que tinha uma coisa essencial a qualquer piscina: água.
Em grande destaque estavam também como que expostas, as mais lindas e mais novas caravanas que há no mercado e, do lado oposto, encontram-se as chamadas cabines que o parque aluga, tudo muito bonito, limpo e bem estimado e muito relvado.
Ficou de imediato decidido (pelas minhas duas filhas) que entravamos, custasse o que custasse.
Estaciono a Autocaravana na linha de “recenseamento” (última oportunidade para mudar de ideias) e antes de puxar o travão de mão (desta vez não me esqueci) já a minha filha mais nova estava a abrir a porta do habitáculo para ir a correr para o parque das crianças.
Subi as escadas para a recepção e como já cheguei depois da hora de trabalho (eram por volta das seis da tarde), carreguei no intercomunicador aparecendo de imediato a dona do Parque com um sorriso límpido o qual transmitia o pensamento: “estava a ver que não enchia o parque hoje”.
- Tem lugar para uma Autocaravana de sete metros (com as bicicletas atrás são oito, mas isso são detalhes) três adultos e duas crianças? - pergunto eu.
- Para quantas noites? - pergunta a dona
- Apenas uma. - respondo eu...!
O mundo pára por uns momentos, ela olha para mim agora com o sorriso diminuído em cerca de 20 por cento e continua...
- Acho que ainda temos um...
(Engraçado, por pura coincidência, em todos os Parques me acontece o mesmo; é sempre o último lugar. Nunca entendo como é que depois entram outros que eu sei ser a primeira noite que ali estão.)
Continuando...
- Quanto custa? - pergunto eu.
Ela olha para os rabiscos que tem no calendário que estiver ali na sua secretária e depois de dar o tempo que seria necessário para pensar (para parecer mais real) responde os números que ela já tinha na cabeça desde o momento que eu disse 5 pessoas;
- 70 Dólares. - disse ela...
Os sintomas febris apoderam-se da minha pessoa e quem não consegue sorrir agora sou eu.
Bem, lá terá que ser e eu digo:
- Ok, ficamos por uma noite.
Ela a sonhar sempre com pessoas que queiram ficar uma semana ou mais no Parque e está ali a perder tempo comigo por apenas uma noite mas, lá terá de ser, faz parte do negócio.
- Nome - pergunta ela.
Eu já nem tento explicar ou soletrar. Vou à carteira e mostro o cartão de sócio do clube Australiano de Autocaravanismo onde ela pode copiar o meu nome.
Como sempre me acontece ela também fica a olhar incrédula para as cinco palavras que compõem o meu nome.
Australiano que se preze tem dois nomes; o primeiro nome e o último pelo que devem achar um desperdício eu ter um nome que no caso deles teria sido suficiente para três membros da família!
Bem, ao mostrar o cartão estou a dizer que vivo na Austrália e lá se vão mais 25 por cento do sorriso, pela razão de que se eu fosse turista ela apenas teria de escrever o País de origem, receber o graveto e Xau! No meu caso a história é mais complicada, ela terá que escrever tudo: morada número de telefone, idade, género, etc, etc.
Mas nem tudo está perdido (para azar meu, e sorte dela…).
- Este cartão de sócio também me dá direito a desconto aqui neste parque? - pergunto eu.
E ela agora com 30 por cento do sorriso de volta à sua face responde (sem espinhas):
- NÃO!
Conformado com o resultado tento então entender o que ela, com uma caneta de feltro, esborrata no mapa do Parque:
- Aqui ficam as casas de banho, aqui a lavandaria, mas também pode usar isto, isto e isto.
Bem, por esta altura já estou completamente baralhado e vem então a parte mais importante:
- Estamos aqui e você entra aqui e vai por aqui e por ali e...
Agora o mapa parece um desenho da minha filha quando tinha um ano de idade.
- Ok. - digo eu, e ela entrega-me um código para entrar no Parque e a chave para a casa de banho.
Saio da recepção mais nervoso do que no dia em que fiz o exame da quarta classe...
Olho para dentro da Autocaravana e vejo a minha querida esposa e não menos querida cunhada, sentadas no banco da frente com uma cara de: Será menino ou menina?
- Então foi caro? - pergunta a minha esposa.
- Não, 50 dólares – respondo eu (mentir é feio mas mantém casamentos).
- Meu Deus, isto é que é roubar. - diz a minha querida esposa.
Passo para as mãos da minha querida esposa o dito mapa. Ela por sua vez dá umas quantas olhadelas e eu, ao ver que ela o tem ao contrário (não sei porque insisto), retiro gentilmente o mapa das suas mãos com o pretexto de que quero lá ver qualquer coisa.
Dou à chave e alinho a viatura de forma a não ter que sair para introduzir o código. Com os pés fincados no volante tento chegar aos botões que estão a uma altura apenas boa para carros normais.
Depois de várias tentativas, lá consegui a proeza de correctamente introduzir o código e, como que por magia, o pau (aquele ferro com um peso numa das partes) lá se levantou e entrámos.
Orgulhoso de ir a conduzir uma Autocaravana, último modelo, grande e bonita, com todo o aspecto de que sou um ricaço, lá entrei Parque adentro a 5Km/h onde a primeira velocidade só se aguenta com a embraiagem a meio. Esta é a única velocidade permitida o que tem, no entanto, as suas vantagens. Toda a gente vê a minha mais preciosa aquisição e principalmente a minha pessoa ao volante.
Fui colocado (de acordo com o mapa) mesmo ao fundo do Parque, e lá vou eu no meu pedestal (tipo carro papal) só me faltando acenar às pessoas que neste momento já paravam para admirar a minha Autocaravana.
Como bom condutor que sou, e agora já quase a meio do meu percurso, dou uma espiada (olhadela em português) aos espelhos retrovisores... Meto automaticamente o pé ao travão (coisa que não se faz numa Autocravana), e bananas, livros, máquinas fotográficas, etc., rolam no chão...e isto porquê? Perguntam vocês.
No espelho retrovisor vejo a cara desesperada da minha filha mais nova a correr atrás da Autocaravana, provavelmente a pensar que estava a ser abandonada pela própria família.
Foi uma risota interminável! Não queríamos crer que todos se tivessem esquecido da pobre alma no parque das crianças. Eu até mencionei que sem dúvida era uma óptima ideia para um dia que eu esteja farto da companhia da minha esposa, fazer algo do género...Deixá-la num Parque, num sitio bem remoto e sair sozinho, de fininho, com a Autocaravana, rumo à liberdade...claro que ela não achou piada nenhuma.
Agora, e com a família completa, lá continuei Parque adentro.
Para trás ficaram as instalações impecáveis com casas de banho de sonho e muito perto do espaço que me fora atribuído, vejo as casas de banho que me estão destinadas, construídas com certeza, aquando da abertura do parque há cerca de 50 anos.
Seguindo o mapa, estou agora a ir por caminhos (nunca antes por uma Autocaravana tão alta percorridos) os quais requerem a preciosa ajuda da minha querida esposa, que tem de sair para se certificar de que não terminamos as férias com uma Autocaravana descapotável.
Por fim, chegámos (após 4 minutos) ao sítio...
- Será aqui? - pergunto eu
- Não sei… não vejo nenhum número! - diz a minha querida esposa.
- A mim parece-me ser aqui, aliás não vejo mais espaço nenhum... Mas tem lá um todo-o-terreno estacionado... Digo eu.
Acelerei o motor na esperança que o dono aparecesse e...aí vem ele, um tipo que mal chega aos pedais, com um carro daquele tamanho…
Os Parques de Campismo, no sentido de rentabilizar o espaço disponível não levam em conta extras tais como o carro que transporta a tenda ou a caravana, e então a malta vê-se obrigada a ocupar o espaço alheio, ora com um carro, ora com uma piscina de plástico para os miúdos.
Ele lá mudou o carro para o seu espaço, e como se de uma cabra montesa se tratasse, colocou o grande veículo num pedacinho de terreno que tinha entre a sua tenda e a bordinha da estrada.
Eu, por minha vez, tive de fazer contas de cabeça pois, conforme o pedido, o espaço destinava-se a uma Autocaravana de sete metros de comprimento e a minha, “vergonhosamente”, tem oito e tal...
Bem, para trás e para a frente, num sitio onde até um carro teria dificuldades em fazer manobra, tive a oportunidade de ver a cara a dois ou três vizinhos que por esta altura já receavam ver as tendas agarradas ao meu suporte das bicicletas.
Tudo correu bem. Esteticamente uma Autocaravana atravessada num lugar não fica lá muito bem mas, desta forma, apenas ficava com 10 cm da mesma no meio da rua, o que já era aceitável.
O meu lugar, não sei porquê, não era relvado como aqueles que eu vi à entrada; era de areia fina, daquela que insiste em enfiar-se nos recantos mais inacessíveis da Autocaravana por um bom par de meses. As chaves, destinadas às casas de banho, não cabiam na respectiva fechadura, por isso ainda estou para saber de onde eram. Foram entregues à dona do Parque no dia seguinte, com a respectiva reclamação e um pedido de desculpa como resposta.
Enquanto tivemos moedas fomos, noite fora, lavando e secando roupa.
No dia seguinte, e para minha grande alegria, descobri que lá para o meio do Parque, e ao contrário de todos os outros onde tenho estado, havia onde despejar a cassete da sanita.
Para não ir (tipo estivador) com aquela “caca” (vulgo, cassete) às costas, e como estava de saída, conduzi a Autocaravana até ao dito “sítio”. Ora bem... isto de despejar a cassete da sanita não é propriamente algo de que eu goste de falar... No entanto é uma realidade que faz parte desta maravilhosa vida de ser Autocaravanista. Vai daí que, há muito tempo me interrogo: “Porque será que estas estruturas (de despejo do “pote”) são estrategicamente colocadas em zonas de obrigatória passagem, ou bem visível a todos os que estão acampados nas redondezas?
Para despejar o “conteúdo”, um homem (as mulheres é que não se metem nisto) tem que abrir as pernas para manter equilíbrio (não deixando cair nada nos dedos dos pés) e debruçar-se em balanço numa posição bastante comprometedora (pelo menos aqui na Austrália) e bastante reveladora das partes traseiras dum homem - isto para quem estiver a ver por trás.
E, como se tal não chegasse, o orifício (um mísero cano ao alto) onde é suposto introduzir o conteúdo em causa, fica numa posição tão afastada que, a primeira parte dos “líquidos”, nunca cai dentro, sendo depois necessária uma mangueira e muita perícia para conduzir “aquilo” para o buraco.
E lembrem-se, isto tudo perante os olhos daqueles que não sabem o que é que eu estou ali a fazer e que por esta altura estão com cara de quem comeu um limão amargo. Espero ter dado a ideia...
Eu digo!... Porque não vender bilhetes para estas sessões de despejo, e de cada vez que alguém for tratar deste assunto, anunciar nos megafones o que vai acontecer para que assim mais pessoas possam assistir.
Parques de Campismo são como as mulheres: não se consegue viver com elas, e não se consegue viver sem elas...
José Rebelo (um homem com coragem para dizer o que pensa, e para isso tem a licença da sua querida esposa).

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